Em todas as palestras que eu faço para tratar de desigualdades raciais eu começo a minha fala fazendo o teste do pescoço para demonstrar o quanto o Brasil é marcado pelo racismo estrutural nas diversas esferas sociais. Confesso que me surpreendo com a quantidade de pessoas que vivem no mundo e acreditam mesmo que a cor não importa ou alegam nunca terem notado ou ainda que todos somos iguais, embora os dados oficiais denunciem que entre brancos e negros há uma discrepância enorme. Mas depois que virei mãe, eu decidi que não basta apenas constatar que vivemos em uma sociedade que é reflexo de um espelho distorcido da realidade racial.
Por isso eu adotei o teste do pescoço para analisar as relações pessoais e o racismo dentro da vida das esferas pessoais. Além das perguntas já citadas, eu também pergunto: quantos amigos negros você tem? Com quantos profissionais negros você trabalha no mesmo cargo que você? Quantos você contratou nos últimos tempos para prestar serviços para você sem ser de limpeza ou obras na sua casa. Ah! Não vale contratar só no mês da consciência negra, ok? Com quantos negros/as você namorou na vida? Se as respostas a estas perguntas, em sua grande maioria, foram: nenhum, um, dois, poucos, você precisa fazer algo além de se autodeclarar antirracista. É necessário você compreender quais os motivos conscientes e inconscientes que contribuem para que embora tenhamos 54% da população negra, esta realidade não está representada.
Como mãe eu tenho a esperança de que meus filhos vivam em mundos onde este espelho distorcido racial seja menos distorcido com o passar dos anos, mas para isso eu preciso de você. Preciso que você observe em que bolha você vive e ouse furar com ações concretas em todas as esferas da sua vida. Pois a partir de revoluções no micro poderemos mudar a realidade no macro. O que você pode fazer para mudar essa realidade?

 

Texto e vídeo por Carolina Duarte.

 

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